A CAPOEIRA
A capoeira é uma expressão cultural brasileira que mistura luta, dança, cultura popular, música esporte, artes marciais e talvez até brincadeira. Desenvolvida no Brasil por escravos africanos e seus descendentes, é caracterizada por golpes e movimentos ágeis e complexos, utilizando os pés, as mãos, a cabeça, os joelhos, cotovelos, elementos ginástico-acrobáticos, e golpes desferidos com bastões e facões, estes últimos provenientes do Maculelê. Uma característica que a distingue da maioria das outras artes marciais é o fato de ser acompanhada por música.

Acredita-se que a palavra capoeira seja originária do tupi e refira-se às áreas de mata rasteira do interior do Brasil. Foi sugerido que a capoeira obteve o nome a partir dos locais que cercavam as grandes propriedades rurais de base escravocrata. Há porém, uma enorme polêmica acerca da origem etimológica do termo. Existe a teoria de base lusófona na explicação de alguns etimólogos como sendo originária do português "capo", uma vez que, o jogo dançante era praticado por escravos de ganho, vendedores de aves, que assentavam ao chão as gaiolas de seus capos, antes da prática. No entanto, muitos especialista consideram a teoria um tanto simplista e artigos acadêmicos que questionam o rigor científico dos estudos sobre a capoeira podem ser encontrados na web. As teorias indígenas apontam tanto o tupi quanto o guarani nos termos kapwera ou tupwera, relacionando-a à vegetação debastada pela prática.[1] Internacionalmente, os dicionários etimológicos acompanham a controvérsia, ora apresentando o vocábulo capoeira como oriundo do quicongo "kipura" sofrendo influência latina para cap, ora apresentando o português antigo "capon", frango ou galo jovem castrado, ave esta vendida em gaiolas pelos escravos de ganho praticantes da capoeira.
Desde o século XVI, Portugal enviou escravos para o Brasil, provenientes da África Ocidental. O Brasil foi o maior receptor da migração de escravos, com 42% de todos os escravos enviados através do Oceano Atlântico. Os seguintes povos foram os que mais frequentemente eram vendidos no Brasil: grupo sudanês, composto principalmente pelos povos Iorubá e Daomé, o grupo guineo-sudanês dos povos Malesi e Hausa, e o grupo banto (incluindo os kongos, os Kimbundos e os Kasanjes) de Angola, Congo e Moçambique.
Os negros trouxeram consigo para o Novo Mundo as suas tradições culturais e religião. A homogeneização dos povos africanos e seus descendentes no Brasil sob a opressão da escravatura foi o catalisador da capoeira. A capoeira foi desenvolvida pelos escravos do Brasil, como forma de elevar o seu moral, transmitir a sua cultura e principalmente como forma de resistir aos seus escravizadores. Geralmente era praticada nas capoeiras e, à noite, nas senzalas onde os escravos ficavam acorrentados pelos braços. O que explicaria o fato de a maioria dos golpes serem desferidos com os pés. Foi também muito praticada nos quilombos, onde os escravos fugitivos tinham liberdade para expressar sua cultura. Há relatos de historiadores de que Zumbi dos Palmares e seus quilombolas comandados só conseguiram defender o Quilombo dos Palmares dos ataques das tropas coloniais porque eram exímios capoeiristas. Mesmo possuindo material bélico muito aquém dos utilizados pelas tropas coloniais e geralmente combatendo em menor número, resistiram a pelo menos vinte e quatro ataques de grupos com até três mil integrantes comandados por capitães-do-mato. Foram necessários dezoito grandes ataques de tropas militares ao Quilombo dos Palmares para derrotar os quilombolas. Soldados de Portugal relatavam ser necessário mais de um dragão (militar) para capturar um quilombola porque se defendiam com estranha técnica de ginga, pernas, cabeça e braços. Muitos comandantes de tropa portugueses e até um governador-geral consideraram ser mais difícil derrotar os quilombolas do que os holandeses. Há registros da prática da capoeira nos séculos XVIII e XIX nas cidades de Salvador, Rio de Janeiro e Recife, porém durante anos a capoeira foi considerada subversiva, sendo sua prática proibida e duramente reprimida. Devido a essa repressão, a capoeira praticamente se extinguiu no Rio de Janeiro, onde os grupos de capoeiristas eram conhecidos como maltas, e no Recife, onde segundo alguns a capoeira deu origem à dança do frevo, conhecida como o passo.
Em 1932, Mestre Bimba fundou a primeira academia de capoeira do Brasil em Salvador. Mestre Bimba acrescentou movimentos de outras artes marciais e desenvolveu um treinamento sistemático para a capoeira, estilo este que passou a ser conhecido como Regional. Em contraponto, Mestre Pastinha pregava a tradição da capoeira com um jogo matreiro, de disfarce e ludibriação, estilo que passou a ser conhecido como Angola. Da dedicação desses dois grandes mestres, a capoeira deixou de ser marginalizada e se espalhou da Bahia para todos os estados brasileiros.
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